Tele-trabalho, tele-escola... tele-maluca!

Por Kel - maio 07, 2020

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Considero-me uma sortuda, não perdi o emprego, não fui para layoff, o meu trabalho não é presencial… e por isso estou em tele-trabalho. 
Mas tenho duas criaturas pequenas e entrei no mundo fantástico da tele-escola.

Sou eu e mais duas, porque o marido tem trabalho presencial. 
Às vezes perco-me no papel que tenho que desempenhar, às vezes uso o papel errado, às vezes junto vários, às vezes invento outros… fico confusa e baralho as crias. 

Começo o dia a preparar o portátil para a mais velha e garantir que cumpre os horários
As dezenas de actividades enviadas por e-mail
A telescola
As video-conferências pelo zoom 
Tento convencer a mais nova, que está no pré-escolar, a fazer pinturas… As colagens, recortes e montagens ficam para depois, porque não dá para fazer o acompanhamento próximo que a tarefa exige, o papel de artista plástica terá que ficar para depois do jantar.

Entretanto, “corre” para o outro portátil - tens uma reunião no Teams, desta vez só com voz porque já te desgadelhaste toda, pois uma das crias já te levou à loucura.
Estás no meio da reunião e uma delas sem filtros grita que a aula virtual deixou de funcionar, “oh meu Deus, não fiz mute, toda a gente ouviu”, e pensas que se fosse com vídeo, todos presenciavam a metamorfose para tomate.

Chega a altura das dúvidas, porque não percebeu o exercício, aqui não posso ser mãe mas também não consigo ser professora, o papel de “génio multifacetado” não comprei.
E parece de propósito porque a dúvida surge sempre no meio de um email importante, no desespero digo para tirar as duvidas na videoconferência. 
Ganhei apenas uns minutos, porque ou não dá imagem, ou não ouve ou ninguém a ouve, aqui faço o papel de "IT"e aplico a velha máxima “faz restart”, quando entra está no meio de uma conversa, não interrompe e acaba a aula de 40 minutos… lá vem o drama!
vou chumbar… não percebi a matéria, és uma péssima professora”, agora tenho que fazer o papel de psicóloga. 
Gostava de ter adquirido o papel de praticante de yoga ou apenas comprado umas doses de paciência. 

Volto para o meu lugar, aparece a mais nova “mãe, tens que fechar a janela porque o vírus está lá fora e ele entra”, respiro fundo, visto o papel da DGS e explico que felizmente não é assim que se transmite. 

Chego ao final da tarde e sinto que entre refeições, lanches, duvidas, crises, chamadas de atenção, birras, acusações, não fiz tudo o que tinha para fazer no tele-trabalho e aproveito que o marido chegou e termino aquele trabalho, aquele email, aquele ficheiro excel que ficou a meio.

Passou um segundo e é hora de jantar.

Quando chego ao final do dia, sinto que falhei em todos os papeis.
Vale as amigas para me distraírem no watsapp, o marido que me põe a auto estima em altas e um pouco de Netflix para me entreter. 

É apenas uma fase, que me vai tornar mais forte, vai-me dar novas valências e sei que não estou sozinha nesta dor.
A todas as mães em tele-trabalho os meus parabéns porque somos realmente umas heroínas silenciosas, mas não nos vamos gabar 🤭
Os meus parabéns a todas as pessoas que se estão a reinventar para enfrentar esta fase. 💪

Agora vou ali tomar um xanax natural.
Kel

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1 Comentários:

  1. Boa tarde Kel,

    Trago uma outra perspetiva dos tempos que correm…
    Tanto eu como o meu marido estamos a trabalhar presencialmente. Sempre estivemos.
    Em casa, ficam dois adolescentes… sozinhos!

    Antes da tele-escola e das aulas on-line houve dias em que só faltou matarem-se, literalmente. Quando chegávamos a casa do trabalho só ouvíamos queixas, acusações, xingamentos, …, tirando as vezes em que um deles ou os dois me ligavam para o trabalho... Foi horrível!

    As "aulas" começaram e andam muito mais calmos. Têm obrigações, horários, trabalhos, ...andam ocupados e não sobra tempo para se pegarem. O ambiente familiar mudou do 8 para o 80 (ou vice-versa, como quiserem).

    Esta tem sido a nossa experiência.

    Parabéns, a Vós, Heroínas Silenciosas!
    Fiquem bem!
    Beijinhos.
    Liliana

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